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XÔ, Bicho Grilo!

A decisão de fazer um concurso público envolve uma verdadeira guerra com múltiplas frentes. De um lado, a disciplina para adquirir conhecimentos, consolidá-los e conseguir empregá-los na hora do combate; de outro, a tentativa cotidiana para manter o equilíbrio e mover uma peça do tabuleiro a cada dia até o infante concurseiro conseguir, passar, classificar-se e – finalmente – estar entre os nomeados.

Quem faz concurso sabe como isso não é fácil e se revela um jogo de estratégia. Muito bem!Estava pronto para a batalha: tudo nos trinques, matéria revisada, simulados feitos, bibliografia coberta – alguns poucos pontos ainda precisavam ser revistos, mas, pô, ninguém é perfeito, cabeção!

A véspera do concurso… bem, deixo para outra oportunidade, porque véspera só tem lugar e sentido se o “Dia D” chegar – é como vice e suplente, que só valem se os titulares forem eleitos. A tônica é a hora da verdade, a batalha final, o momento em que toda a sensibilidade se aflora e nos deixa, digamos, sensíveis e uma pilha. Somos prato feito para o bicho grilo!

Pois não é que, sei lá por que, fui dar ouvidos a um desses grilos lançados por um amigo candidato, ou melhor, candidato inimigo QUE ME perguntou: “Você funciona melhor pela manhã ou à tarde?” Com toda a possível polissemia da linguagem, o amigo inimigo queria saber se eu preferia fazer provas pela manhã ou pela tarde – é ruim, eu heim!

Eu nunca havia me perguntado sobre isso, porque quem define a hora da batalha, ou melhor, a hora da prova, é o examinador… Mas acreditem! Essa pergunta me grilou, sem razão plausível, só pelo fato de ser uma besteirinha sobre a qual eu nunca havia pensado.

Por quê? Porque, todos os outros concursos que havia feito até então tinham sido pela manhã, logo cedo, e aquele seria à tarde. Repentinamente comecei a me preocupar como esse fator influenciaria no meu desempenho – relaxe! Não precisa ficar grilado também!

O grilo começou a me bater à cabeça sem trégua e não havia razão para isso, porque estava preparado para o que viesse. A verdade é que a perguntinha se transformou em verdadeira síndrome de pensamento acelerado e, nos dias anteriores à prova, acompanhou-me na cama e nos sonhos todas as noites.

O dia da prova chegou! Dormi bem na véspera, até porque já havia me acostumado com minha amante involuntária, que assumia todas as vozes e formas, nada eróticas, mas repetia o mesmo discurso: você funciona melhor pela manhã ou à tarde?

A prova era à tarde e não tive muito tempo para refletir se seria melhor pela manhã, até porque tomei uma taça de um vinho tinto seco, maravilhoso, vindo das vinícolas de Mendoza! foi uma única taça, tão-somente uma.

E aí?! E aí que, na batalha final, a gente luta pela sobrevivência. Somos todos desumanos, mesmo diante de alguém que desmaiou logo no início da prova – calma, os paramédicos estavam por perto.

E o bicho grilo, para onde foi?! Desapareceu da mesma forma que apareceu. Desfez-se num passe de mágica, na adrenalina de quem se preparou com vontade e muita dedicação.

No Dia D, a prova poderia ser até de madrugada, porque a vontade que me movia era a de um maratonista – mesmo que depois de tantas horas sentado, estivesse mais próximo de um “balonista”. “Fui”, vi e venci!

Se você já teve um bicho grilo, não é mera coincidência, porque grande parte dos concursandos já passou por algum problema dessa natureza – psicológico e, às vezes, psiquiátrico – e muitos chegaram a se prejudicar no desempenho por algum bicho grilo.

Como espantar o grilo é a pergunta que não quer calar- dá um baita filme… The Secret!. Ioga, meditação, igreja, centro-espírita, esporte, barzinho, psicólogo, terapia, ou uma mistura de tudo isso pode ser o caminho.

Agora, nada funciona para vencer o bicho grilo, detoná-lo, em sentido literal, se não tivermos dado o melhor de nós nos estudos; nada funciona se não estivermos certos de que fizemos a nossa parte, com perseverança. Xô, bicho grilo!

João Dino dos Santos

  • Consultor Legislativo – CLDF
  • Mestre em Linguística – UnB
  • Professor do Grancursos

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