O segundo vestibular de 2012 da UnB, os candidatos encontraram um tema, que, a julgar pelos e-mails recebidos, deu muita dor de cabeça: JOVENS DE HOJE: APRENDIZES DA PALAVRA E DO SILÊNCIO. Ao elaborar o seu texto, explicite como a juventude atual lida com a palavra e com o silêncio na construção de seus valores e de sua identidade. Não é um tema fácil porque concita os jovens a refletir criticamente sobre o seu próprio comportamento e a se posicionar sobre a possibilidade de eles aprenderem tanto com o silêncio – e, digamos, o alheamento, que costuma incomodar os mais velhos – quanto com a palavra – instrumento de manifestação de ideias e opiniões.
Nem sempre a Universidade de Brasília e as demais instituições de nível superior seguem esse parâmetro de temas abstratos, que envolvem muita maturidade e autocrítica dos candidatos para elaborar a dissertação. O caminho, nesses casos, é trazer o tema para o terreno concreto, transformando a assertiva numa pergunta ou em várias perguntas: os jovens de hoje são aprendizes da palavra? Por quê? E do silêncio? O que os jovens tiram de lição quando parecem distantes num mundo aparentemente, ou não, alheio à realidade? Feitas essas perguntas, talvez fique mais fácil para o vestibulando ensaiar uma resposta na forma de dissertação argumentativa.
Por outras palavras, ao responder as perguntas, os vestibulandos poderiam ter condições de planejar um texto em que assumissem posicionamento e o defendessem por meio de argumentação, com o uso dos conectivos lógicos inerentes aos processos de coordenação e subordinação. Se esse tema fosse proposto num concurso, não seria fácil para a maioria dos concurseiros. Assim como os vestibulandos, estes teriam dificuldades, também – presume-se – em relação a um tema proposto no 2º Vestibular de 2010: o cotidiano, considerada a dualidade vida-morte, pode ser um espaço de criação ou de cópia.
Aqui, assim como em 2012, o segredo era a transformação do enunciado numa pergunta: o cotidiano é um espaço de criação ou de cópia? Quanto à frase intercalada, parece-nos que era mais para confundir do que para qualquer outra função, porque a dualidade vida-morte pode ser traduzida pelo tempo entre o nascimento e a morte, ou seja, a própria vida.
É evidente que esse tipo de tema, abstrato não costuma ser preponderante nem nos vestibulares da UnB e de outras instituições de nível superior, tampouco nos concursos em geral, ainda que a Fundação Carlos Chagas tenha oferecido no TRF1 – para analista judiciário o seguinte tema: para os destinos de uma sociedade, é indiferente conceber a máquina como um engenho a serviço do homem, ou o homem como um apêndice da máquina.
No concurso para analista do Senado Federal, a Fundação Getúlio Vargas também ofereceu temas mais abstratos, tanto para o nível médio quanto para o superior que saem um pouco da média dos demais concursos: nível médio – no mundo atual, a velocidade das mudanças impõe às pessoas a necessidade de uma busca intransitiva e substantiva; nível superior: no momento em que se verificam bons ventos da economia do Brasil, em que é possível ao brasileiro se sentir amadurecido, olhar para si e reconhecer potencialidade, somos mais ou menos tupiniquins? Ou em outras palavras o que é tupiniquim?
De modo geral, os temas de vestibulares e de concursos, quando são sobre a atualidade, têm recorte mais concreto: Trote nas universidades: uma brincadeira inocente ou um castigo sem crime?(1º Vestibular UnB – 2011) ou Discorra sobre a participação social através do voto, instrumento prático de cidadania, tendo em vista os direitos e deveres do eleitor e do eleito (TSE – 2011)
Mas, nos concursos públicos, os candidatos encontrarão, também, temas com recorte bastante técnico, como ocorre em provas para agente de Polícia Federal ou para analista do Tribunal de Contas da União, ou, ainda, para Consultor Legislativo, em que, por vezes, se oferece um estudo de caso ou uma situação hipotética, para ser analisada pelo candidato. Neste caso, a demanda é bem específica e se espera do candidato que aplique os conhecimentos teóricos a um caso concreto e se manifeste de acordo com a doutrina e a jurisprudência de tribunais.
A vantagem desse tipo de tema é a objetividade, e a desvantagem é o amadurecimento necessário para se manifestar com segurança a respeito de determinada ação da Administração Pública. Em provas técnicas, ao contrário dos temas da atualidade, existe apenas uma interpretação correta e não há espaço para análise divergente do que está assentado sobre determinado ponto, a acumulação de cargos públicos, por exemplo.
Em 2011, o CESPE surpreendeu os candidatos com o seguinte tema, no concurso do MPU: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO (ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL) PARA O SUCESSO DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL. Sem dúvida, trata-se de um tema da atualidade, mas com um recorte mais técnico, porque o candidato precisaria falar – necessariamente – do planejamento estratégico, tático e operacional, ou seja, sobre conceitos bem sedimentados nessa área.
Em suma, parece-nos razoável dizer que, nos vestibulares, os candidatos encontrarão, na absoluta maioria das vezes, temas da atualidade, que poderão ser concretos ou abstratos. Nos concursos, arriscaríamos dizer que a tendência é para recortes mais técnicos, mesmo quando os temas são da atualidade. Ressalte-se, ainda, a especificidade dos temas de concursos para cargos como o de analista de controle externo do TCU, consultor legislativo no Congresso ou nas Assembleias Lesgislativa – inclusive a Câmara Legislativa do DF; e perito da Polícia Civil ou Polícia Federal.
Portanto, a primeira tarefa de um candidato que deseja passar no vestibular ou em determinado concurso é verificar o edital e ver qual será a modalidade de prova discursiva cobrada pela Banca, e os critérios a serem avaliados quanto ao conteúdo e ao uso da linguagem. A segunda tarefa é procurar um bom profissional, capaz de orientá-lo na confecção dos textos de acordo com os parâmetros exigidos pela Banca. Não basta apenas a teoria para aprender a redigir bem. É preciso aprender um conjunto de estratégias para decodificar as demandas da Banca e colocar as ideias no papel, tanto em concursos quanto em vestibulares.
O Professor Dino dos Santos é Consultor Legislativo da CLDF e autor do livro Provas Discursivas: Estratégias.