Com o intuito de auxiliar os candidatos aos concursos e vestibulares, vamos mostrar um caminho para equilibrar o tamanho dos períodos em nossos textos e garantir o fluxo das idéias.
Se observarmos a evolução do estilo do português, sobretudo no concernente à construção de períodos, vamos perceber que quanto mais recuamos no passado, mais tenderemos a encontrar períodos longos. Às vezes, são sete, oito e até dez linhas, num longo encadear de idéias e argumentos, em enunciados compostos por coordenação e ou subordinação, como, por exemplo, trecho inicial da carta de Pero Vaz de Caminha a D. João, sobre o descobrimento do Brasil. “Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim, igualmente, os outros capitães escrevam a Vossa Alteza, dando notícias do achamento desta vossa terra nova, que agora nesta navegação se achou, não deixarei de também eu dar minha conta disso a Vossa Alteza, e creia que certamente nada porei aqui para embelezar e nem para enfeitar, mais do que vi e me pareceu.
Portanto, Senhor, do que hei de falar começo o digo: (…) ” Esse estilo predomina, também, em autores do início do século passado, tais como, Ruy Barbosa, conforme podemos ver no parágrafo introdutório de Oração aos Moços: “ Senhores: Não quis Deus que os meus cinqüenta anos de consagração ao direito viessem receber, no templo do seu ensino, em São Paulo, o selo de uma grande bênção, associando-se, hoje, com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos em que os ides esposar.”
Não é difícil perceber que as construções longas são bem mais difíceis de serem compreendidas, porque existem inúmeros argumentos colocados ao redor de uma idéia principal ou diversas frases declaratórias colocadas numa sucessão de afirmações e negações, ou ainda vários argumentos colocados antes da oração principal. Hoje, à evidência, alguém que escreva dessa maneira encontrará certa dificuldade em transmitir as idéias, porque o mundo contemporâneo, ágil e marcado pela comunicação em tempo real, parece exigir pensamentos mais objetivos e concisos, que facilitem a compreensão entre emissor e receptor.
Isso não significa, entretanto, que devamos nos expressar numa sucessão de períodos simples, sem o uso de conjunções e conectivos lógicos, porque isso quebraria o princípio de hierarquização das idéias, fundamental no processo de comunicação. Qual seria, então, o melhor caminho para encadear as idéias, garantindo-se o bom fluxo, associado à leveza e musicalidade do texto? De modo geral, entendemos que ainda predomina, no português moderno, o estilo machadiano, ou seja, o equilíbrio entre períodos simples, mais adequados ao início ou ao final do parágrafo, combinados com períodos compostos por coordenação e subordinação, mais próprios ao desenvolvimento.
É possível, também, construir uma seqüência de períodos, todos compostos por coordenação ou subordinação, mas sem exceder a quatro ou cinco argumentos em cada enunciado. Vejamos o primeiro parágrafo de Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Algum tempo hesitei se deveria abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim, mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”